Jean Manzon foi o grande responsável pela formação de uma equipe
de fotógrafos que, afinal, foram os pioneiros do fotojornalismo moderno no
Brasil. Fotógrafo francês com grande experiência em revistas ilustradas, Manzon
atuou nas revistas Vu e Paris Match antes de emigrar para o Brasil em agosto de
1940. Responsável pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) do governo de Getúlio Vargas, Manzon tinha a função
de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil, no país e no
exterior. Permaneceu no DIP até 1943, quando se transferiu para O Cruzeiro.
Suas
primeiras reportagens seguiam o padrão tradicional da revista, submetendo suas
fotografias à diagramação utilizada até então. Não tardou para que Manzon
ditasse novos rumos para a imprensa da época. Segundo Helouise Costa, “é como
se Jean Manzon tivesse esperado o momento certo para implantar uma fórmula há
muito concebida: a das fotorreportagens de Paris Match” (Costa, 1998:141).
Durante seu período trabalhando para O Cruzeiro (1943-1951), Manzon produziu 346
fotorreportagens, impressas em 72% dos exemplares publicados ao longo de sua
permanência na revista. Grande parte das matérias foram feitas em parceria com
David Nasser, que se ocupava dos textos.
Helouise Costa separa sua vasta produção n’O Cruzeiro em
quatro vertentes: política, personalidades, religião e realidade brasileira.
Deste último tópico fazem parte as inúmeras fotorreportagens que ele publicou
sobre índios brasileiros:
Embora
esse tema tenha se tornado um forte filão, explorado por vários fotógrafos de O
Cruzeiro ao longo das décadas de 1940 e 50, Jean Manzon é o pioneiro dessa
ideia que se inicia com sua famosa reportagem intitulada “Enfrentando os
chavantes!”. O sobrevôo de uma aldeia xavante, nunca antes contatada, permitiu
a Manzon tirar fotos que iriam causar grande sensação, não só no Brasil como no
exterior. (Costa,
1998:143)
Manzon
passou a visitar com freqüência a terra dos Kalapalo, Kamaiurá e Xavante. Em
suas imagens tudo aparenta ser cuidadosamente arquitetado. Com um teor
sensacionalista, os personagens congelam-se em gestos significativos e a luz
compõe o espaço de forma dramática: os personagens e os elementos da imagem
preenchem a totalidade do quadro fotográfico, passando uma idéia de plenitude,
de que as situações se completam em si mesmas. As imagens são destituídas de um
caráter documental. Antes, revelam um momento ideal, que transcende uma
situação específica e torna-se a cristalização de uma proposta.
Dessa forma,
Jean Manzon deu concretude visual a um conjunto de idéias pré-concebidas sobre
o Brasil, provenientes de várias fontes: o programa do Estado Novo, as
diretrizes da arte de cunho social e as idéias engendradas no seio da
intelectualidade modernista (Costa, 1998).
Em 1950, ainda em O Cruzeiro, Manzon publicou dois livros: Mergulhos na Aventura,
em parceria com David Nasser, composto pelo material publicado na revista; e Flagrantes do Brasil (Ed. Bloch), onde apresenta uma
compilação do seu acervo, composto por centenas de imagens preto-e-branco de
temáticas diversas, criando uma narrativa de cunho nacionalista e
integracionista. São fotografias de povos indígenas, habitantes do sertão,
paisagens litorâneas e metropolitanas: uma sociedade múltipla, todavia
integrada pela construção de um novo Estado brasileiro.
Neste
último livro, algumas legendas revelam um caráter ideológico evidente: “Índios,
brancos e negros – três raças fortes – construíram quatro séculos de história
brasileira. Irmanados enfrentaram as florestas, ergueram cidades, irmanados vêm
lutando…”
Em 1952,
funda a Jean Manzon Produções, através da qual chegou a realizar cerca de 900
documentários, a maioria deles sobre o Brasil. Durante o período da ditadura
militar, os documentários de Jean Manzon ficaram conhecidos pelos elogios
exacerbados que faziam às realizações e obras do governo.
Em 1966
recebeu o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, pelo filme
documentário L’Amazone. Colaborou com a agência Magnum e atuou como diretor provisório
da revista Paris Match de 1968 a 1972. Faleceu em São Paulo em 1990.
Seu
acervo de 8300 negativos 6×6, do período de 1946 a 1990, bem como 752
documentários de sua autoria, encontra-se sob os cuidados da Cepar Cultural, em
São Paulo.
All images ©
Jean Manzon
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